30/10/2012

Dos sermões de São Fulgêncio de Ruspe, bispo


(Sermo 3,1-3.5-6:CCL 91 A, 905-909) (Séc. VI)
As armas da caridade

Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje
celebramos o martírio triunfal do seu soldado.

Ontem o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um seio
 virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda de seu
corpo, parte vitorioso para o céu.

O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de
mãos vazias. Trouxe para seus soldados um grande dom, que não apenas os
enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate:
trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.

Ao repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre:
enriquecendo do modo admirável a pobreza dos seus fiéis, ele conservou a
plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.

Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estevão da
terra ao céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no
soldado.

Estêvão, para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a
caridade e com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou
perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por
aqueles que o apedrejavam. Por esta caridade, repreendia os que estavam no
 erro para que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam
para que não fossem punidos.

Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter
como companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra.  Sua
santa e incansável caridade queria conquistar pela oração, a quem não
pudera converter pelas admoestações.

E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo,
com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro,
martirizado pelas pedras de Paulo,  chegou depois Paulo, ajudado pelas
orações de Estevão.

É esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha mais
da morte de Estêvão, mas Estevão se alegra pela companhia de Paulo, porque
em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a crueldade
dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em ambos, a
caridade mereceu a posse do reino dos céus.

A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o
caminho que conduz ao céu.  Quem caminha na caridade não pode errar nem
temer.  Ela dirige, protege, leva a bom termo.

Portanto, meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela
qual todo cristão pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade
verdadeira, exercitai-a uns para com os outros e, subindo por ela, progredi
 sempre mais no caminho da perfeição.

Fonte:

Liturgia das Horas: Tempo do Natal,Oitavas de Natal

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