14/03/2013

Escolha de argentino é novo começo para a igreja, diz Leonardo Boff

Para o teólogo Leonardo Boff, 74, a escolha do novo papa, Francisco, revela "um novo começo" para a Igreja Católica. "Não é só fazer uma reforma aqui e acolá, é fazer uma reconstrução, com outros valores que não são os do poder, são os da proximidade com o povo", afirmou em entrevista àFolha.


Como o sr. recebeu a notícia da escolha do novo papa?
O importante é o nome, Francisco, significa um programa de uma igreja simples, pobre, amante da natureza, ligada ao povo, e disso é que estamos precisando hoje.
Ele já deu alguns sinais que mostram uma mudança importante na maneira de governar a igreja: pediu que o povo o abençoasse para depois abençoar o povo. Disse uma frase de fundamental importância: de que quer presidir na caridade.
A própria figura dele é sóbria, séria, evitou toda a espetacularização e teatralização da figura do papa, só deu a bênção e se deixou ver. Acho que esses fatos são reveladores.
O que significa ter escolhido o nome Francisco?
Quando se fala de Francisco, se fala de um conjunto de valores. São Francisco se converteu e, quando escutou a frase 'Francisco, reconstrói a minha igreja', tomou ao pé da letra. Depois entendeu que era para reconstruir espiritualmente a igreja. Viveu com os leprosos e saiu pregando o evangelho ao lado deles. Ele fez uma crítica ao papado, não uma crítica verbal, mas vivendo de maneira simples, ligado ao povo. Ao redor do nome Francisco há valores que vão nortear seu papado.
O nome pode ser referência a são Francisco Xavier?
Ele não explicitou qual Francisco, mas é o Francisco que todo mundo conhece, são Francisco de Assis. Mas mesmo são Francisco Xavier foi um grande missionário, atuou na China. Mas acho que não é a são Francisco Xavier que ele se refere, é a são Francisco de Assis.
E isso tem muita importância no sentido de revelar um novo começo na igreja, não é só fazer uma reforma aqui e acolá, é fazer uma reconstrução, com outros valores que não são os do poder, são os da proximidade com o povo.
Cerca de 60% dos católicos estão no terceiro mundo, a igreja na América Latina não é mais um espelho da igreja na Europa, é uma igreja que tem sua própria maneira de se organizar. Ele traz para a igreja uma experiência muito poderosa da igreja na América Latina, que deu certo, que se enraizou nos meios populares.
O sr. o conhece? É possível dizer se terá um perfil mais moderado ou conservador?
Conheci [Jorge Mario Bergoglio] em 1970, em um encontro de teólogos em Buenos Aires. Ele é um jesuíta muito inteligente e espiritual, extremamente simples, a ponto de cozinhar sua própria comida. Conhece o povo, é um homem de abertura e de esperança para a igreja.
Ele fez críticas ao casamento de homossexuais. O que isso indica?
Esse era um ponto fechado para todos os que não eram papa. Sendo papa, ele tem outra autoridade. Acho que ele é capaz de abrir essa questão para uma discussão na igreja, e não me admiraria se ele fizesse um amplo debate sobre celibato e outras questões polêmicas.

Fonte

Folha de S. Paulo



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